sábado, 5 de novembro de 2011

O PERFUME DE HELLEN


Jonas entrou todo tímido no laboratório do perfumista. O lugar era lindo. Vidros coloridos por todo canto. Todo tipo de aroma no ar. O mágico alquimista foi logo dizendo: “Vieste pedir para eu fazer um perfume para Hellen, não foi?”. O garoto venceu a vergonha e respondeu: “Sim. Foi, sim.... Eu quero namorá-la, mas tenho vergonha de me declarar... Disseram-me que o senhor faz perfumes mágicos... Gostaria de comprar um”. O perfumista sorriu. E falou: “Tudo bem. Vamos começar o preparo”.

O senhor das químicas pôs um vidrinho sobre sua mesa de trabalho e, com cuidado, pegou da prateleira um frasco cheio de um líquido brilhante, dourado. Enquanto abria a vasilha, explicou: “Esta essência se chama Coragem... Para fazer o perfume que me pedes, temos que colocar uma boa quantidade dela”. Por alguma estranha razão, Jonas se sentiu mais forte. Sentiu-se mais robusto enquanto o liquido brilhante era usado. Depois, o velho homem apanhou outro frasquinho. Este continha uma poção azul, bastante cristalina. Ele falou: “Sabes como se chama isso aqui? Isso se chama Alegria... Um bom perfume de amor precisa ter muita alegria!”.

No mesmo momento em que a essência era derramada, nosso amigo percebeu que estava com vontade de rir. Mesmo sem motivo, teve muita vontade de rir. O perfumista passou a trabalhar com outro vidrinho. Dentro do novo recipiente, um líquido transparente. O alquimista contou: “Vamos agora botar isso. Sabes o que é? Isso é a Sensibilidade”. Jonas se emocionou. Percebeu que estava com vontade de chorar. Controlou-se. Desta feita, o próximo passo do velho sábio foi pegar um potinho feio, com um creme estranho, mal cheiroso. Não! Não botou o creme no perfume que estava fazendo para Hellen. Entregou o pequeno pote a seu cliente e disse: “Jogue no chão”. O garoto se assustou. O perfumista repetiu: “Vamos! Jogue no chão!”.

O menino, então, obedeceu. Lançou o potinho no piso. E foi caco para tudo quanto é lado. Mas acreditem: o creme fedorento sumiu rapidamente. O alquimista revelou: “Isso que quebraste é a essência conhecida como Covardia. Ela é assim mesmo: quando jogada fora, some sem deixar marcas”. O garoto sentiu-se ainda mais confiante. O misterioso senhor anunciou, por fim: “O perfume está pronto. Mas só podes levá-lo amanhã. Volta aqui e eu te entrego o preparo”.

Jonas assim fez. Foi para casa. Mal conseguiu dormir. Total ansiedade. No dia seguinte, retornou ao laboratório. Tomou um susto imenso. Tudo tinha sumido. Os vidros coloridos. O perfumista. Tudo tinha sumido. O ambiente estava limpo, limpo. Mas... Havia algo... Sim, lá estava o vidrinho onde tinha sido feito o perfume para sua amada. O recipiente, porém, não continha líquido algum. O que havia em seu interior era um bilhete. O jovem retirou o papel do frasco e leu o seguinte recado: “Meu querido Jonas, a vida é um laboratório mágico. O mais encantado laboratório que existe. Todos os aromas com que trabalhamos moram agora em sua alma. VOCÊ É O PERFUME DE HELLEN! Com afeto, seu amigo, O Perfumista"

* Narrativa do meu livro infanto-juvenil CONTOS PARA ACORDAR O SONHO ANTES DE DORMIR.